sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Impasse já não bom.

A consciência, ao perceber a iminência da revelação, decide omiti-la. O impetuoso coração resolve anunciá-la. Eis o impasse.

Dada a situação, prossigo sem dizer-te por completo. Os teus lábios, ansiosos por mais do que a fala, contradizem a memória, inimiga dos corações latentes. Sem que fiquemos incólumes, o sigilo recheado de escrúpulos e delicadezas dispensáveis prossegue. Enquanto ele caminha, mantém as dores minha e tua.

Não estou a dizer-te sobre dores quaisquer. A narrativa é sobre esta dor sentida quieta, uma dor abundante, destas que falam com a nossa voz, fazem gritar e chorar. Não é a dor dos apaixonados, esta daria prazer. À qual me refiro é aquela dos desiludidos, dos semi-vivos, dos quase-mortos. A dor que persegue a memória, cada vez que o coração ousa desafiá-la.

Percebo que temos escondido um do outro, a verdade completa ou parcial dos fatos. Sentimento é fato? Caso sim, com prová-lo? Caso não, qual o intento em omitir um não fato? Uma vez que não há objetivo em tal omissão, esta pode ser dispensada.

Por que a hesitação em demiti-la? Covardia minha e tua. Também dos corações, embora já cicatrizados. Para exercitar a coragem, a frieza das palavras costuma ser má conselheira. A força dos gestos, no entanto, sublime guerreira! Enfrenta vencedora às lembranças, interfere nos sentimentos e nos deixa sem palavras.

Eis o momento em que pergunto sobre a veracidade destes dizeres calados, trocados nas entrelinhas. O mais verdadeiro está na cumplicidade dos olhares; na sincronicidade da vida; no brilho do encontro; na clareza do gesto; na vivacidade das vozes que sorriem e comentam sobre nós. Este é o presente.

Quando é que vamos sorrir de volta?